Vânia Dantas Leite foi uma musicista e compositora de grande relevância para a música contemporânea brasileira. Formou-se Bacharel em Piano pela Escola de Música da UFRJ em 1968 e, posteriormente, em Composição e Regência pela mesma instituição, em 1972. Em 2004, concluiu seu doutorado em Música pela Unirio, consolidando sua trajetória acadêmica e artística. Nas duas primeiras décadas de sua carreira, atuou como pianista, cravista e regente, desempenhando um papel fundamental na divulgação da música contemporânea no Rio de Janeiro.

                             Foi responsável por estreias mundiais de obras de compositores como Jorge Antunes, Guilherme Bauer e Ricardo Tacuchian. Entre 1971 e 1977, integrou o Conjunto Ars Contemporânea, onde iniciou como instrumentista e mais tarde assumiu a direção musical e a regência. Foi nesse período que estreou sua primeira obra reconhecida, Vita Vitae (1974), apresentada na I Bienal de Música Contemporânea em 1975. Esta peça é considerada pioneira na introdução da música eletroacústica mista no Brasil, combinando instrumentos tradicionais (flauta, viola, violoncelo e clarinete) com gravações em fita e um sintetizador ao vivo. Ademais, a obra incorpora textos da poeta feminista Olga Savary. 

                             Durante os primeiros anos de sua produção musical, Vânia Dantas Leite não esteve vinculada a nenhuma instituição formal, seja universitária, seja orquestral ou fundacional. O Conjunto Ars Contemporânea, apesar de formado por músicos profissionais, possuía um caráter semi-profissional, sem estrutura empregatícia fixa. Embora sua formação inicial fosse tradicional, a compositora buscou, por iniciativa própria, aprofundar seus estudos em música eletrônica e eletroacústica fora do Brasil, uma vez que, à época, tais oportunidades não estavam disponíveis no país. Em 1974, realizou seu primeiro curso na EMS (Electronic Music Studios), na Inglaterra, onde adquiriu o sintetizador AKS, instrumento que utilizaria em diversas de suas composições. Além de Vita Vitae, destacou-se também a obra A-Jur-Amô (1978), composta para voz e sons eletrônicos pré-gravados. 

                            A partir de 1981, passou a integrar o corpo docente do Instituto Villa-Lobos da Unirio, sem, contudo, interromper sua formação. Ao longo de sua carreira, frequentou importantes centros de pesquisa musical, como o Studio de Recherches Électroniques Auditives em Bruxelas (1982, 1986), o Studio Methamorphoses d'Orphée em Ohain, Bélgica (1987) e o Studio für Musikinformatik da Hochschule für Musik em Karlsruhe, Alemanha (1998, 2000 e 2003). Seu legado está presente não apenas na história da música eletroacústica no Brasil, mas também na formação de novas gerações de músicos e compositores. Seu pioneirismo e dedicação continuam a inspirar pesquisadores e artistas que exploram as interseções entre a tecnologia e a criação musical.